A crença de que um edifício pode se misturar e se destacar ao mesmo tempo é incorporado pelo edifício do Centro de Arte Contemporânea Lois e Richard Rosenthal (CAC), localizado em Cincinnati, Estados Unidos. Embora sua volumetria pesada o faça parecer como um elemento escultórico independente e impenetrável, o Centro Rosenthal é, de fato, concebido para trazer a cidade para seu interior - para além das suas paredes e para cima, em direção ao céu. Este dinamismo inerente adapta-se bem a uma galeria que não possui uma coleção permanente, e está situado no coração de uma próspera cidade do Meio-Oeste.
O centro, fundado em 1939, foi uma das primeiras instituições de artes visuais contemporâneas nos Estados Unidos. [1] Desde a década de 1960, as galerias do CAC foram alojadas no segundo andar de um empreendimento comercial no centro de Cincinnati. Isso era excepcional em um tempo em que a maioria das instalações de arte contemporânea estavam situadas nos arredores da cidade americana; Infelizmente, apesar de sua localização central, o CAC era praticamente invisível da rua. As discussões sobre um edifício novo e dedicado ao centro iniciaram no final dos anos 80, conduzindo finalmente a um concurso de projeto em 1997. [2]
De um total de 97 propostas, o CAC reduziu suas escolhas a 12 semifinalistas e, finalmente, a três finalistas: Daniel Libeskind, Bernard Tschumi e Zaha Hadid. Cada finalista foi convidado a produzir um livreto conceitual mostrando não um desenho físico, mas a abordagem conceitual que eles iriam tomar. Hadid propôs organizar o museu em diversos volumes de galeria independentes, todos suspensos de um plano torcido de concreto. Estes elementos funcionais conformariam não só a massa do novo museu, mas também a sua aparência exterior. A proposta foi suficientemente intrigante para que, em 4 de março de 1998, o CAC declarasse formalmente Zaha Hadid como vitoriosa. [3]
O terreno escolhido pelo CAC era uma esquina movimentada no coração do centro de Cincinnati. Situa-se ao longo de uma rota de pedestres que vai da Fountain Square próxima ao Aronoff Center for the Arts do outro lado da rua, garantindo um fluxo constante de pessoas. Foi este dinamismo de pedestres que encorajou Hadid a desenvolver o conceito de "Tapete Urbano", um dos dois gestos projetuais que definem o Centro Rosenthal [4].
O "tapete urbano" é o método de Hadid de trazer o tecido urbano para dentro das paredes do museu. O saguão do térreo é totalmente envidraçado e aberto ao público, convidando os pedestres a tratar o espaço como uma praça pública fechada; Isto serve para situar o Centro Rosenthal na rede existente de espaços e caminhos públicos, permitindo-lhe funcionar como um nó urbano vital e resolver eficazmente a questão da visibilidade enfrentada pela antiga instalação de galeria. O piso de concreto do lobby conecta-se à parede traseira do museu por uma curva ascendente, transformando os dois em uma superfície contínua que conceitualmente desenha o tecido urbano para cima do saguão e para os espaços de galeria suspensos acima. [5]
Enquanto o conceito de "Tapete Urbano" conformou o projeto ao nível do solo, os espaços de galeria foram impulsionados por outra ideia: o "Quebra-Cabeça". Hadid usou o termo para ilustrar o arranjo complexo de volumes de concreto de tamanhos diferentes que abrigam os espaços da galeria do centro; as variadas intersecções entre os volumes e os vazios entre eles podem ser vistas como um enigma tridimensional. A lógica por trás dessa estratégia era simples: como a arte contemporânea pode assumir uma variedade de formas e dimensões, galerias de arte contemporânea devem ser igualmente variadas. Portanto, Hadid projetou os volumes da galeria para variarem consideravelmente em comprimento, altura e condições de iluminação - uma solução arquitetônica para praticamente qualquer contingência artística. [6]
Assim como os visualmente distintos "Tapete Urbano" e o "Quebra-Cabeça", a circulação que liga os dois teve que ser igualmente dramática. O principal meio de circulação vertical é a série de escadas que correm de um lado para o outro ao longo da parede traseira do museu; O caminho em ziguezague da escada percorre todo o caminho do piso térreo para o nível mais alto do edifício. [7] Cada lance de escadas, feito de aço e pintado de preto, pesa 15 toneladas - o peso máximo que os guindastes utilizados para a construção poderiam levantar. Todo o espaço da escada é iluminado por claraboias no telhado, a luz filtrando todo o caminho até o nível do solo.
Hadid escolheu não esconder suas estratégias de projeto dentro de um volume simplificado, mas mostrá-las abertamente. O resultado são duas fachadas distintas, cada uma das quais revela um aspecto diferente do interior do centro. A fachada sul, que compreende as faces mais longas dos volumes das galerias, expressa o programa construtivos através de três escolhas materiais: vidro, concreto e painéis metálicos pretos. A fachada leste não se baseia no material, mas na volumetria, com sua topografia de faces de concreto revelando o arranjo complexo de volumes de galeria no centro [9].
Quando o Centro Rosenthal de Arte Contemporânea abriu suas portas ao público em 2003, foi mais do que apenas um novo espaço de exposição para a instituição. Com a abertura do centro, Zaha Hadid se tornou a primeira mulher a projetar um museu de arte americano. [10] O Centro Rosenthal foi, e permanece, uma das maiores e mais dinâmicas galerias de arte contemporânea dos Estados Unidos - um lar apropriado para uma das instituições de arte mais significativas do país.
Referências
[1] "Lois & Richard Rosenthal Center for Contemporary Art." Zaha Hadid Architects. Acesso em 3 de Maio de 2016. [link]
[2] Desmarais, Charles. "Contemporary Arts Center, Cincinnati." In Zaha Hadid Space for Art, edited by Markus Dochantschi, 21-31. Baden: Lars Müller Publishers, 2004. p22-23.
[3] Desmarais, p24-26.
[4] Noever, Peter, ed. Zaha Hadid Architektur. Vienna: Hatje Cantz Verlag, 2003. p125-126.
[5] Noever, p126.
[6] Dochantschi, Markus, ed. Zaha Hadid Space for Art. Baden: Lars Müller Publishers, 2004. p46.
[7] Dochantschi, p54.
[8] Jodidio, Philip. Zaha Hadid: Hadid: Complete Works 1979-2009. Köln: Taschen, 2009. p167.
[9] Noever, p127.
[10] Jodidio, p167.
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Arquitetos: Zaha Hadid Architects
- Área: 8500 m²
- Ano: 2003
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Fotografias:Roland Halbe, Paul Warchol, Helene Binet, Zaha Hadid Architects
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Fabricantes: High Concrete Group, Schöck